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Povos antigos moldaram a Floresta Amazônica

10/03/2017

É comum imaginar que a Floresta Amazônica trata-se de um grande ecossistema natural, mas um estudo recente sugere que isto pode ser uma meia verdade - o fato é que, parte desta floresta é formada, hoje, por árvores que foram cultivadas por povos indígenas há milhares dos anos atrás.

"Algumas das espécies de árvores que hoje são abundantes nas florestas amazônicas, como cacau, açaí e castanha do Brasil, são, provavelmente, comuns porque foram plantadas por pessoas que ali viviam muito antes da chegada dos colonos europeus", diz Nigel Pitman,co-autor do estudo.

A descoberta surgiu em função da sobreposição de dados de mais de 1.000 pesquisas florestais, em  mais de 3.000 sítios arqueológicos localizados em toda a Amazônia. Ao comparar a composição florestal e as distâncias variadas de sítios arqueológicos, a análise gerou o primeiro quadro da Amazônia, que indica como os povos pré-colombianos influenciaram a biodiversidade amazônica. O estudo concentrou-se em 85 espécies arbóreas conhecidas por terem sido domesticadas por povos amazônicos para alimentação, abrigo ou outros usos nos últimos milhares de anos. Os pesquisadores descobriram que, em toda a bacia amazônica, essas espécies eram mais propensas a florestas de montanha mais maduras, em relação às espécies não-domesticadas. Em algumas partes da bacia hidrográfica, as espécies domesticadas eram mais comuns e mais diversificadas nas áreas de silvicultura mais próximas dos sítios arqueológicos.

"Isso é até o caso de algumas florestas maduras, muito remotas, que geralmente assumiríamos como intocadas e imperturbadas", diz Pitman.

A descoberta promete aquecer um longo debate entre cientistas sobre como milhares de anos de assentamento humano na bacia amazônica influenciaram os padrões modernos de biodiversidade amazônica. O imenso tamanho das florestas amazônicas tem, historicamente, impedido a pesquisa arqueológica e dado a impressão de uma paisagem intocada, mas um grande número de novos sítios arqueológicos foram descobertos nos últimos anos.

A equipe, composta por centenas de ecologistas e cientistas sociais em todo o mundo, foi liderada por Carolina Levis, doutoranda do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas da Universidade de Wagenigen da Holanda. "Por muitos anos, os estudos ecológicos ignoraram a influência dos povos pré-colombianos nas florestas que vemos hoje, e descobrimos que um quarto dessas espécies domesticadas estão amplamente distribuídas na bacia e dominam grandes extensões de floresta. O sustento e a economia dos povos amazônicos e indicam que a flora amazônica é em parte um patrimônio sobrevivente de seus antigos habitantes ", diz Levis.

O estudo também identificou regiões da Amazônia que hoje concentram, especialmente, grande diversidade e grandes populações de espécies domesticadas. A Amazônia Sudoeste, onde grandes povoamentos de castanheiras brasileiras permanecem como uma base de subsistência dos moradores locais, é um exemplo. Outras regiões mostraram menos espécies domesticadas, ou uma relação mais fraca entre espécies domesticadas e sítios arqueológicos, destacando a necessidade de mais pesquisas sobre a história da colonização amazônica. O grau até o qual a história recente do assentamento amazônico afetou a distribuição e abundância de espécies domesticadas na Amazônia também continua a ser estudado.

Embora o pequeno número de espécies domesticadas utilizadas no estudo tenha sido suficiente para revelar um forte sinal humano em florestas modernas, os autores apontam que o sinal pode ser ainda mais forte do que o documentado, visto que centenas de outras espécies de árvores amazônicas foram usadas por pré- colombianos e também merecem estudo. Desvendar a complexa interação de fatores históricos, ambientais e ecológicos que estrutura a flora arbórea amazônica de 16 mil espécies permanece um foco do trabalho da equipe.

"As questões são urgentes", diz Pitman, "uma vez que ambos os tipos de patrimônio pré-colombiano - os sítios arqueológicos e as florestas que os cercam - estão em risco de construção de estradas, mineração e outras ameaças à Amazônia".

Fonte: Adaptado de ScienceDaily