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30 anos do Dia Mundial da Água

22/03/2022

Nesta terça-feira, 22 de março comemora-se o Dia Internacional da Água. Considero que não se trata de uma data para comemorar, mas para refletir porque nestes últimos trinta anos, desde a promulgação desta data pela ONU, pouco aconteceu a nível de políticas internacionais, incluindo aqui as raras ações encaminhadas no nosso país visando garantir a proteção das nossas reservas hídricas.

Recentemente, ao ler a obra “A terra Inabitável” de David Wallace-Wells, chamou-me a atenção sua visão conceitual sobre o cerne da crise hídrica mundial, que reproduzo a seguir:

                              “Hoje a crise é política – o que significa dizer, não inevitável ou necessária, nem além da nossa capacidade de concertá-la - e, logo, opcional, na prática. Esse é um dos motivos para ser, não obstante, terrível com parábola climática: um recurso abundante é tornado escasso pela negligencia e indiferença e indiferenças governamentais, pela falta de infraestrutura, pela urbanização e desenvolvimento descuidados. ......O resultado global é que pelo menos 2,1 bilhões de pessoas no mundo não tem acesso a água e 4,5 bilhões não dispõem de tratamento de água de saneamento.”

No caso do Brasil, talvez por acreditarmos que nos encontramos em uma situação confortável, pois nosso território concentra cerca de 12 % de todas reservas de água doce do mundo, tal condição é encarada como uma garantia de disponibilidade e assim deixa de ser assunto importante para o planejamento estratégico do país. No entanto, a realidade mostra que cerca de um terço da população do país sofre historicamente com as secas, e ainda, que apenas 50 % dos domicílios contam com tratamento de esgoto, o que vem agravando a poluição da maioria dos recursos hídricos superficiais localizados nas principais bacias hidrográficas situadas na área de influência dos grandes centros urbanos. 

Outra questão, ainda não tratada com a devida atenção pelos nossos governantes, é o consumo de água na agricultura, especialmente nas culturas irrigadas, já que este segmento cresceu no país exponencialmente nos últimos 30 anos, se tornando um dos principais produtos das nossas exportações. Para se ter uma dimensão deste consumo, dados levantados pelo Censo Agropecuário do IBGE, ainda no ano 2006, mostravam que cerca de 300 mil propriedades rurais mantinham a sua base produtiva dependente de irrigação.

É importante ressaltar que o citado processo, mesmo que controlado, acarreta perdas significativas de água por evaporação e por percolação, especialmente em regiões de clima tropical, como é o caso do Brasil. A FAO estima que, no mundo, cerca de 70% do volume de água ofertado nos perímetros irrigados, se perde por evaporação ou por percolação e que a redução em 10% nesse volume permitiria abastecer metade da população mundial.  – Neste percentual não estão incluídas as variáveis impostas pela crise climática que estamos vivendo.

Concluo esta breve reflexão utilizando uma ajustada frase do cientista Peter Gleick referindo-se à crise hídrica no planeta: 

                       “Se o clima é um tubarão, os recursos hídricos são os dentes”.

Marco Antonio de Medeiros – Diretor Técnico da NAPEIA Consultoria e Projetos.